Para que serve afinal o Presidente da República?

Lendo o que se escreve por aqui e por aqui, ou, num registo mais sofisticado, o que tem sido escrito por Vital Moreira (vejam o que aqui escrevi sobre o assunto), fica-se com a sensação que uma certa esquerda lê os poderes presidenciais de uma forma tão restrita, tão restrita, que nem sei porque razão não exigem mas é a extinção do cargo. Cavaco Silva terá dito umas banalidades sobre a criação de uma Secretaria de Estado para acompanhar o investimento estrangeiro. Uma modesta contribuição para um governo que ganhou as eleições prometendo ao povo 150 mil empregos, um Plano Tecnológico e mais um conjunto de benesses que durante a campanha cairam parecia vindas do céu, alimentando a esperança do povo. Uma boa técnica, conhecida nos meandros do marketing como "Estratégia Moisés", em memória e homenagem a este grande líder bíblico, que com o Maná aguentou o povo judaico quarenta anos a penar no meio do deserto (com alguma dificuldade é certo, dadas as festanças e os bezerros de ouro que volta e meia desviavam os pobres crentes). Nada de especial, pensei eu hoje de manhã ao ouvir a TSF. Enganadinho: a JAD considera gravíssimo que Cavaco faça propostas directas ao Governo. Já o homem da Aspirina acha tudo isto um lamentável episódio. Eu até percebo onde querem chegar: no fundo, é preciso apresentar o papel do Presidente da República como sendo algo tão vazio, tão vazio, que sirva que nem uma luva a este senhor que aparece aqui neste filme (via O Insurgente). Porque, obviamente, ninguém vai votar neste Mário Soares (ou neste) para ocupar algum lugar que implique um mínimo de responsabilidade. Vai dai, há que convencer o Povo que o importante é eleger um tipo que seja mas é "fixe", um homem de "coltura", que escreveu sobre peixinhos e sabe dissertar até adormecer as plateias sobre "cidadania global", esse conceito esotérico que Soares considera fundamental e que está convencido que Cavaco, apresentado como uma espécie de Hulk triturador de bolo-rei, ignora. Só que os eleitores conhecem bem os candidatos. E, na sua maioria, trituram o bolo-rei a la Cavaco. E não sabem que é o Thomas Mann ou o Thomas More. E quando ligam a televisão e chocam com o João Soares a fazer beicinho e a defender que "o papá lê muito, estuda os dossiers, eu vi, eu vi", acham que se enganaram no Canal e estão sintonizados no ContraInformação. E sabem que Cavaco é necessário, nem que seja para garantir um certo equilíbrio de poderes, neste momento em que o reincarnado Moisés, agora José Sócrates, já na posse dos 10 Mandamentos e dotado de uma maioria absoluta, governa sem rédea. Rodrigo Adão da Fonseca

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