Um desígnio geopolítico para o Porto: Uma solução administrativa ou uma solução política?

A fusão do Porto e Gaia, ao contrário do que se quer fazer passar, não configura uma resposta administrativa; ela reduz a presença da administração pública. Ela cria uma cidade – sim, uma cidade – e, por isso, constitui uma resposta política e simbólica, com a virtualidade de funcionar como alavanca de uma profunda mudança regional e nacional. Ela não visa a criação de um novo escalão administrativo, um sucedâneo da regionalização (mas em nada a impede). Ela não visa substituir a área metropolitana ou as tão faladas vias da sua «legitimação democrática»; ela não organiza mecanismos de «cooperação reforçada», ela não se mede em segmentos de competência ou em níveis utilitaristas de funcionalidade.
A união aproveita a geografia de dois concelhos, fortemente entrelaçados, para, dando o exemplo, romper com o ciclo infernal do «localismo separatista». Ela aposta na ideia de, ao criar uma cidade de relevo ibérico, suscitar um movimento espontâneo de adesão de alguns dos concelhos vizinhos, dando consistência à realidade metropolitana. Ela confia, por ganhar dimensão, no estabelecimento autónomo de um novo modelo de «governação» e de «governança». Ela repousa num programa que, por uma vez, não depende da capital e não potencia o queixume bairrista. Ela baseia-se afinal num «efeito multiplicador»: no simbolismo de um acto catalisador, capaz de mobilizar os cidadãos e de despertar todas as reformas que, com melhor ou pior fé, se têm desejado para o condado portucalense.
Paulo Rangel (Público, 18 de Janeiro de 2006)
Rodrigo Adão da Fonseca

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