Espelho meu, espelho meu [parte II]

No meu post abaixo dediquei cinco míseras linhas à crítica que se faz no blogue Mas Certamente que Sim! à Revista Dia D qualificada, e cito, de "[...] encarte panfletário neo-con disfarçado de revista editorial […]". Como colaborador ocasional desta revista, e conhecendo o seu conteúdo, limitei-me a chamar à atenção para o erro profundo que existe em se confundir neo-conservadorismo com liberalismo (nas suas mais distintas asserções). Pois, de todos os colunistas da revista Dia D, não há um - um - que escreva numa linha neo-conservadora; pelo contrário, a maioria situa-se nos quadrantes liberais e liberais-sociais (uma boa parte estará próxima das mais recentes abordagens do liberalismo económico, mas existe pluralismo, sim, dentro daquilo que são as correntes liberais; agora, na verdade, o pluralismo da Revista Dia D não parece acomodar quem não gosta da economia de mercado e desvaloriza o seu papel). Apenas e só. Tão poucas linhas serviram, porém, para mais uma vez o PQ dar azo à conhecida elegância que o caracteriza, divagando em redor de coisa nenhuma; assim, e para esta personagem (que já merecia um boneco na Contra-Informação), a Revista Dia D não capta a sua atenção (big deal; certamente pessoas do seu altíssimo calibre não fazem parte do target da revista); depois, assume erradamente que eu terei ficado "escandalizado" com as suas frases (estado que desconheço, certamente, há mais de vinte anos); aliás, o que leio por aqui não me "escandaliza": dá-me antes vontade de rir; veja-se, a título de exemplo:

"(...) Em vez de esquerda-direita temos a coragem-desistência. Há os que surgem no terreno da democracia com a coragem de enfrentar as terríveis dificuldades de gestão da política globalizada, e os que preferiam abdicar da democracia e entregar a gestão do mundo a uma corporação de escriturários, S.A.

O mundo mudou e está a mudar. Sem coragem será impossível evitar mergulhar em novo caos de proporções nazi-stalinisto-maoístas. Mas o pior, para mim, é ler quem escreve abertamente preferir o mergulho pela simples e egoísta razão de que ele, o indivíduo, tem mais a ganhar.

No mundo mudado, em qualquer mundo antes e depois deste, permanecem inalteráveis as dicotomias: livre-escravo, igualitário-diferenciador, sociedade-indivíduo, ordem-caos.

Como bom anarquista, nestes tempos de ideologia levada à escolha extrema coloco-me dos lados óbvios: o lado da coragem, do livre, do igualitário, da sociedade, da ordem. Dúvidas? (...)".

PQ, 25 de Junho de 2006

"Irrelevância teórica"? "Cinzentismo formal"? "Ausência de ideias"? Discurso "panfletário"? E que dizer de quem se define como "anarquista" na mesma frase em que se coloca ao lado da "ordem"? E de quem se assusta com a apologia do indivíduo ao mesmo tempo que receia o "caos (...) nazi-stalinisto-maoista"? E que liberdade é essa que despreza assim tanto o indivíduo, ao ponto de o classsificar como gerador do "caos"? E como rotular quem persiste em visões dialécticas, ultrapassadas, que reduzem tudo a "dicotomias" ("livre-escravo, igualitario-diferenciador, sociedade-indivíduo, ordem-caos"), quem ainda se orgulha de ter uma visão do mundo a preto e branco? Isto sim, é fruto de um criativo pensamento, sem clichés nem frases feitas! Mas certamente que sim! Rodrigo Adão da Fonseca

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