Blue Photo: Shirin Neshat (com adenda)

Seeking Martyrdom (variation nr 1), 1995
I] O que é a Paz? Como se chega à Paz? Ela "nasce", ou "conquista-se"? É fruto da evolução dos povos, ou da eliminação brutal das diferenças pelas armas? Como se chegou à Pax Romana? A Paz é frutífera? É podre? Vive em Paz quem quer, ou quem pode? Pode viver-se em Paz num mundo sem armas? O que move a natureza humana? É possível apreciar/valorar os conflitos, ignorando a História? Será que todo o mundo comunga dos mesmos valores? Se a Paz, para uns, é um ideal supremo, não haverá quem esteja disposto a morrer por uma concepção muito sua sobre algo que julga ser um valor superior? Como nos podemos defender das minorias agressivas? E como podem as minorias ser protegidas? Como se constrói o Direito Internacional? O que motiva o terrorismo? Quais as nações consolidadas que não choram os seus mártires? Quantos mortos se glorificam quando honramos a nossa bandeira? Há uma única concepção global, coerente, para o rumo da Humanidade? Ou esta é intrinsecamente plural e potencialmente conflituante? II] Em 2004 a maioria do país mediático e político apoiava Kerry; alguns, Bush; poucos, porém, conheciam a fundo, quer as propostas, quer o enquadramento específico dos candidatos. Quase ninguém seguiu, verdadeiramente, o processo eleitoral. Recentemente, vimos Xanana ser entronizado, enquanto Al-Kathiri era servido, ao jantar dos portugueses, como o "mau da fita". Por estes dias, temos grande parte do país a defender o Hezbollah, e a "integridade territorial do Líbano" (seja lá o que isto signifique); há ainda um espaço para os defensores intransigentes dos israelitas.
Poucos são, contudo, os que dominam os fenómenos que subjazem a toda esta litigância. Talvez por isso, nos media ou nos cafés, seja mais fácil tomar posições, arrastando consigo, afectivamente, os leitores, espectadores, amigos. Sem grandes reflexões. Sem convites ao espírito crítico dos portugueses.
III] Eu sou dos que gosta de ler aqueles que, seriamente, acompanham os fenómenos com algum distanciamento, e que por dominarem as suas principais facetas, conseguem emitir opinião. São raros os que se dedicam a esta tarefa, árdua; muitos deles por vezes não têm palco. O país não se interessa particularmente por aquilo que eles têm para dizer. Os argumentos não obedecem às regras de Hollywood.
Aqui, no Blue Lounge, só se fala daquilo que (minimamente) se sabe, do que se tem algum conhecimento; talvez por isso este blogue tenha poucos visitantes; escrever aqui dá-me, ainda assim, uma enorme satisfação, pois constato, pelo feed-back recolhido, que as pessoas gostam deste cantinho em grande medida porque não há aqui uma exploração do "sangue pelo sangue"; e porque os assuntos tratados, pretende-se, convidam à reflexão.
No Blue Lounge não se tem discutido nada sobre os conflitos no Líbano e em Israel; porque não se domina o problema.
IV] Espanta-me como em Portugal tanta gente consegue, numa curta apreciação, tomar posição em relação a assuntos tão complexos como este. Fico surpreendido com a facilidade como se lêem os distintos problemas do Médio Oriente, a preto e branco; a foto acima apresentada, melhor do que quaisquer palavras, corporiza de uma forma feliz esta alegoria; toda ela, assenta num universo sem cor, a preto e branco; alguém desatento poderá esquecer-se, porém, que nesta questão, existem muitas mãos - demasiadas - manchadas de sangue. É muito fácil fazer a retórica da Paz. É politicamente correcto fazê-la. Eu também amo a Paz. Mas, como qualquer verdadeiro amor, sei que a Paz é dura de obter. Sei, também, que como os mecanismos do coração, é muito difícil encontrar os caminhos da Paz, e fugir do fosso da Guerra. O que não percebo é porque se persistem em fazer notícias que, por vezes, mais parecem novelas de cordel... Rodrigo Adão da Fonseca
PS: Via o post "Cada Macaco no seu Galho", do Tiago Mendes, n´A Mão Invisível, cheguei a um (excelente) texto do Rui Ramos, publicado no jornal Público do dia 19 deste mês, "Perante a guerra", onde se abordam, melhor do que aquilo que eu aqui faço, alguns dos aspectos que pretendi focar. Fica, assim, o link para o texto do Rui Ramos, que eu gostaria de ter escrito se tivesse arte.

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