Sobre Portugal e Espanha

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Ontem, no programa Prós & Contras, discutiam-se as relações entre Portugal e Espanha.
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Embora me sinta profundamente português, o facto de ter vivivo em Espanha, e de ainda me deslocar aí com frequência, várias vezes ao ano, faz com que encare com naturalidade aquilo que por vezes é visto por alguns com desconfiança: num mundo globalizado, a integração ibérica, no plano económico, é inevitável.
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Não vou dissecar o debate. Mas queria abordar um dos pontos que mais confusão me causa sempre que se comparam, vistos de cá, os dois países.
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Um dos maiores equívocos, para mim, está na apresentação da potencial desagregação dos nossos vizinhos, como factor negativo, ao mesmo tempo que nos regozijamos por sermos "uma das mais antigas nações da Europa", com uma sólida unidade política e cultural.
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A força da Espanha - embora admita que tal possa vir a ser, a médio prazo, a sua ruína como Nação - está na diversidade cultural, linguística, no amor que cada espanhol tem às suas raízes, à sua região, aquilo que é específico de cada localidade. A concorrência interna entre as regiões - e, até, localidades - é fortíssima; cada uma procura explorar o seu potencial ao máximo. Espanha é um Estado politicamente construído da base até ao topo, e o poder está fortemente fraccionado e dividido.
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Em Portugal, pelo contrário, impera desde longa data uma sufocante macrocefalia, acentuada nos últimos anos; o país está cada vez mais desagregado. As diferenças entre as distintas regiões são evidentes, e são várias as zonas que ardem, definham, envelhecem, se esvaziam. Os portugueses estão a perder as suas raízes, emigrados em arrabaldes construídos à pressa em redor do Porto e de Lisboa.
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Os espanhóis têm orgulho nos seus. Falou-se da marca "Espanha" e da sua força e valia. Eu falo-vos de uma outra, a do grupo catalão La Caixa. Um logotipo encomendado a dois artistas, obviamente, catalães, Joan Miró e Josep Royo. A entrega do trabalho foi feita, não em powerpoint ou no meio de um portfolio, mas num grande tapete (200X500), entretanto colocado na entrada da Sede, no piso térreo das duas Torres que se destacam na Avenida Diagonal de Barcelona.
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Quantas empresas portuguesas entregam a sua imagem aos seus artistas plásticos? Rodrigo Adão da Fonseca

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