Rescaldo das eleições presidenciais – V

Um dos grandes derrotados da noite é certamente Francisco Louçã. O Bloco de Esquerda não consegue transformar em votos o ascendente mediático que detém, e nem sequer se pode falar que tenha havido nesta campanha qualquer erro de casting. Louçã fez uma campanha irrepreensível, e terá sido o único candidato que nos debates foi capaz de levar Cavaco, uma vez ou outra, «ao tapete». Só que a mensagem teima em não querer passar. O Bloco de Esquerda não consegue «dinamitar» o muro de betão que o Partido Comunista construiu em redor do seu eleitorado, e viu ainda o seu espaço político invadido por políticos da área socialista: Mário Soares, que ergueu as mesmas bandeiras; e mesmo Manuel Alegre, que embora se posicione num contexto ideológico distinto, chamou a si parte do eleitorado que poderia, em tese, optar por Louçã. O período que se segue é favorável ao Bloco: três anos onde pode atormentar o país com as suas causas, no Parlamento e nos media, sem necessidade de se sujeitar a estes desconfortos eleitorais. Os próximos anos serão, assim, decisivos para perceber se o Bloco se afirma definitivamente ou se, pelo contrário, se desintegra.
Rodrigo Adão da Fonseca

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