O Blue Lounge não esquece

Lembro-me bem do dia em que Gaspar Castelo-Branco foi brutalmente assassinado. O telefone tocou em minha casa com a infeliz notícia. Se a memória não me falha, teria descido à rua para comprar algo para o jantar. Um cidadão comum que foi fria e cobardemente assassinado. Na véspera de uma das eleições mas importantes da democracia portuguesa. O país não reagiu. Calou-se. Amedrontou-se a direita; a esquerda e paradoxalmente o «centrão» preferiram homenagear e canonizar os que comprovadamente faziam parte das FP-25, reabilitando-os para a sociedade civil (Otelo, o homem que se tivesse cursado Direito se julgava apto a ser o «Fidel Castro da Europa», condenado inicialmente a dezoito anos de cadeia, cumpriu apenas cinco anos de pena efectiva), e agraciando-os com medalhas e ordens de mérito (Otelo e Isabel do Carmo, por exemplo, tiveram direito à «chapinha» presidencial, embora o primeiro tenha recusado a comenda da «Ordem da Liberdade», por a considerar banalizada). Importa notar que o atentado foi reinvindicado pelas FP-25 de Abril. Hoje, em Portugal, são aos milhares os que defendem de forma arrebatada a liberdade de expressão contra um Islão que está longínquo, a propósito de uns cartoons publicados num jornal de pronúncia esquisita, da Europa do Norte. Aqui tão perto, porém, à nossa porta, morreu em nome da liberdade e da democracia alguém que tinha um rosto que nos era familiar, porque era nosso, servia em Portugal; que soube honrar as funções que lhe haviam sido confiadas; que deixou permaturamente a sua família. À época, não soubemos ser dignos merecedores da sua coragem. Que ao menos, vinte anos depois, saibamos respeitar a sua memória. Sem deixar cair a sua morte no silêncio e no esquecimento. Rodrigo Adão da Fonseca

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