Ordem Espontânea ou Determinismo?

Escreve o João Miranda, no Blasfémias, aqui e aqui:

(...) O triunfo das ideias liberais, a acontecer, resultará de um processo social e nunca do voluntarismo dos liberais (...)

(...) Nenhum liberal praticante será eleito, e mesmo que, por milagre venha a ser eleito, no dia seguinte deixa, por força das circunstâncias, de ser liberal praticante e passa a ser um estatista praticante (...)

(...) As refomas liberais que se vierem a fazer resultarão dos factos políticos e sociais. Resultarão da competição entre os diversos agentes políticos e sociais, da evolução da tecnologia e da pressão provocada pela concorrência externa (...) (...) Os liberais não podem ter a ilusão (...) que as ideias determinam os factos sociais. É ao contrário (...)

Quem ler estas passagens pode ficar a achar que as pessoas não fazem parte, não participam no processo social, funcionando passiva e acriticamente em algo que as transcende. O homem, numa abordagem liberal, não é super, tem uma capacidade limitada; mas ele não é um ser passivo. Também não existe o «homem liberal» - ou «liberal praticante» - nem o «homem estatista» - ou «estatista praticante». Existem, sim, atitudes liberais e socialistas. Que têm subjacentes ideias. Por isso, mas do que o «quem», deve preocupar-nos o «quê». A força das ideias está precisamente na capacidade que têm de fazer alinhar os esforços individuais; um indivíduo - ou um conjunto de indivíduos - com ideias claras é capaz de antecipar a mudança e inovar. Significa isto ser um agente activo do processo social. Um indivíduo - ou um grupo de indivíduos - poderão não ser a alanvanca da mudança. Mas podem antecipá-la e influenciá-la. O grande desafio, hoje, por isso, e como dizia ontem ao AAA e ao ENP, está precisamente em saber eleger uma agenda liberal, em saber separar a teoria da prática; não submetendo a teoria à prática, nem vice-versa. Conhecer bem os conceitos centrais do liberalismo é um pressuposto essencial para, nos dias de hoje, poder perceber o mundo complexo em que vivemos; ajuda a trilhar caminhos, a «liberalizar». Todos os dias o mundo muda. É bom ter ideias - que nos ajudem a fazer as escolhas, acompanhando a mudança - no sentido que se julgue mais correcto. E esta a força - e o interesse prático - das ideias. Rodrigo Adão da Fonseca

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