A crise da identidade europeia

No programa «Prós e Contras» de hoje, discutiu-se a dada fase a «crise da identidade europeia» e os riscos de um conflito latente entre o catolicismo e o islamismo. A crise da Europa é complexa, e de dificil avaliação na extensão de um post. Acresce que eu não consigo cair em alguns dos simplismos que vi a dada fase arrolados no debate. O problema da Europa não é religioso, no sentido em que não é essa a sua origem. É, desde logo, demográfico, pois os europeus optaram por um modelo de vida que limitou em muito a sua renovação. É, por essa via, económico, pois o seu modelo de bem-estar («welfare»), baseado na solidariedade comunitária, de raíz compulsiva e não voluntária, pressupõe uma pirâmide demográfica que neste momento não existe. O próprio modelo de «welfare» foi alimentado e protegido, durante décadas, por articuladas e eficientes políticas proteccionistas que limitaram o crescimento de largas regiões do globo, mas que começam a desmoronar-se. A Europa foi paulatinamente forçada a abrir as portas da emigração massiva (emigrantes que fogem da probreza), que se instalaram nos seus territórios em grande escala. Em vez de os assimilar e de semear as suas matrizes fundamentais, os europeus preferiram recorrer a fórmulas «multiculturalistas» e «pluralistas» meramente retóricas que não os obrigasse a abandonar o seu conforto em prol de um esforço de efectiva integração das comunidades emigrantes. O resultado está à vista: sociedades recheadas de cidadãos formalmente europeus - porque as leis lhes concedem semelhante estatuto - mas que não subscrevem os traços fundamentais da sua identidade, e que transportaram para o «Velho Continente» as especificidades das suas culturas. Tal não seria grave, se em certas áreas essas diferenças culturais não fossem inconciliáveis entre si. As perplexidades são grandes - os «impasses» a que se referem com grande oportunidade Fernando Gil e Paulo Tunhas - e as dificuldades são ainda maiores. A Europa está a perder diversas batalhas culturais, muitas delas travadas no seu próprio território; luta já com um exército envelhecido e cada vez com menos «armas», com cada vez menos referências. O cenário não é, de facto, auspicioso. Rodrigo Adão da Fonseca

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