O Erro de Fukuyama
Longe de serem "liberais", parte das democracias ocidentais mergulharam nos seus enganos, convictas que por via de amplos consensos e de leis prescritivas – a que se foi dando dignidade constitucional – se poderia conformar toda a realidade. Esta "cosmovisão", fortemente focalizada no universo político, está a desagregar-se a um ritmo acelerado. Em particular, a ideia conservadora do assistencialismo, auto-justificada durante décadas por "fórmulas explicativas" assentes nas virtudes postulares e redentoras do "Todo", já não consegue esconder as suas contradições; começa a constatar-se não ser possível reconciliar aquilo que para várias gerações parecia fazer sentido: afinal, o "Todo" não é capaz de solucionar os problemas das "Partes". A queda destes "muros" que ainda persistem explica o clima que se vive em França e numa boa parte da Europa.
Vejamos, Desde os anos 60 o factor trabalho tem vindo a ser excessivamente protegido nestes países que não permitem que este seja remunerado no mercado em função do seu valor real. Como bem refere Murray Rothbard (Man, Economy and State with Power and Market), os empreendedores só adquirem no presente os factores de produção que lhes permitam criar produtos que, potencialmente, possam ser transaccionados no futuro com um dado ganho; ora, na Europa, o trabalho perdeu a sua natureza pura de factor de produção: na perspectiva do trabalhador, passou a ser um direito, canonizado e protegido artificialmente por via legal; para o empreendedor, representa um encargo adicional para lá do custo necessário para a estrita produção do bem; os incentivos que resultam deste quadro conduzem a que muitos trabalhadores, em vez de se concentrarem na sua valorização, prefiram canalizar os seus esforços para as conquistas legais, negociando as suas recompensas na arena política; a excessiva protecção do trabalho conduziu à destruição da qualificação efectiva de uma parte significativa desta mão-de-obra. Os empreendedores, por seu lado, começaram a encontrar, em grande escala, noutras zonas do globo, formas de combinar os distintos factores de produção de um modo mais rentável.
O que move o mundo são os indivíduos e a sua enorme vontade de criar. A globalização ampliou o jogo da economia para uma escala planetária; as sociedades estão mais abertas do que nunca, sendo altamente delicada a arte da previsão. Estamos assim muito longe de conseguir antecipar o que a História nos reserva. Há que saber conviver com o risco e com a incerteza, acompanhando o ritmo das mudanças. O novo século joga-se na descoberta constante das suas regras: quem jogar adequadamente, sairá vencedor. Quem não for a jogo, ficará necessariamente mais pobre.
Rodrigo Adão da Fonseca
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