iPod

O Daniel Oliveira, n’O Expresso de Sábado, desenvolve um texto já publicado no seu Arrastão, onde alerta para as condições em que vivem os operários chineses envolvidos na fabricação do iPod. Protesta ainda contra o fecho da fábrica da Opel, na Azambuja, desabafando que ao mesmo tempo que encerra a laboração em Portugal a GM se prepara para abrir uma unidade na Rússia. No mundo de hoje, apenas está defendido - efectivamente - o trabalho qualificado que não negligencia a produtividade e o conhecimento. Sem estas duas condições, o factor trabalho (qualificado) não tem sustentabilidade. Durante um período determinado da história da humanidade – menos de meia dúzia de décadas – esta verdade insufismável até parecia "contrariável", naqueles países, como o nosso, que criaram condições para que, por questões ideológicas, a ineficiência do factor trabalho fosse subsidiada – quer directamente, quer via preço (protegendo ficticiamente o trabalho, não deixando o seu valor flutuar no mercado). Esta ineficiência tem vindo a ser suportada, ou pelos contribuintes, por via dos impostos, ou pelos consumidores, via preço; e manifesta-se no emprego desnecessário excessivamente protegido, na imposição de salários mínimos, de descontos compulsivos para a segurança social, no subsídio de desemprego, no subsídio ao estágio e à formação. A concorrência internacional, contudo, limita cada vez mais esta subsidiação, forçando à livre flutuação do preço do trabalho, indexando-o à produtividade. Países como a China e a Rússia, entre outros, saídos do comunismo e da pobreza extrema, estão agora a trilhar, a uma grande velocidade, o caminho da industrialização, da produtividade e da economia de mercado. As condições de trabalho existentes na China são – hoje – em comparação com as nossas, e em alguns sectores da economia, péssimas; mas, ainda assim, bem melhores do que as que eram oferecidas pela organização social anterior, maoísta, rural, fortemente marcada pela produção agrícola e pela fome. As condições de vida têm melhorado numa boa parte da China de uma forma exponencial, à medida que esta se industrializa, que aumentam os níveis de produtividade, e cresce a riqueza do país. Portugal deve olhar para a China e perceber que se nos esquecermos que as únicas defesas para o trabalho assentam na "produtividade" e no "conhecimento", e que a melhoria das condições depende irreversivelmente - bem ou mal - da nossa capacidade de produzir mais e melhores produtos e serviços, rapidamente voltaremos a ser “competitivos”, mas apenas como mão-de-obra intensiva, vocacionados para a pobreza: corremos o risco – real – de sermos novamente os elos mais fracos da cadeia de valor. Se não tivermos consciência da importância central destas duas ideias – "produtividade" e "conhecimento" – muitos portugueses dificilmente escaparão ao trabalho sem condições, à necessidade de embarcar em novas diásporas e à mera luta pela sobrevivência. Rodrigo Adão da Fonseca PS: A produção da fábrica da Azambuja parece que vai ser deslocada para a unidade de Saragoça, e não para a Rússia. Devemo-nos questionar como é que um país onde os salários são mais altos consegue, no final da linha de produção, ser mais competitivo...

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