"A História nem sempre recorda os que bebem champagne".
"Por isso me preocupo sempre em beber Vinho do Porto".
Alguém que eu conheço mas que não digo quem é, in "Tudo o que os homens sabem sobre as mulheres", edição doméstica, aqui desvendado sem autorização do autor, obra de elevado calibre mas que não está publicada, e que se encontra em constante renovação (uma espécie de blogue em papel); citado de cor.
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Quem diminui transversalmente a blogosfera ao mesmo tempo que afirma não a conhecer só pode ser um inimigo da liberdade. Ou então, escreve sobre o que não conhece.
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Um blogue não passa de uma ferramenta virtual; em nada difere de uma página em branco, que cada um preenche como entende.
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Um papel, em si, não tem valor, que depende daquilo que o escritor lá inscrever. Pode assim transfigurar-se, tornar-se numa obra prima da literatura; ou dar lugar ao balanço de uma empresa, à conta-corrente da mercearia de uma viúva, ao diário de uma adolescente, à vingança fria de um político derrotado, a uma história para contar às crianças, aos filhos e netos; ou, simplesmente, permanecer em branco, à espera que se lhe dê vida. Recordo uma
edição que alguém um dia comprou, já lá vão duas décadas - "
Tudo o que os homens sabem sobre as mulheres" - de conteúdo literalmente imaculado, recheado de páginas brancas; esse livro tem vindo a ser preenchido, com especial humor; dele constam citações sobre tudo e nada, frases feitas ou imaginadas que em muito extravassam o que o próprio título inicialmente parecia condicionar.
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Não faz sentido falar em "blogues", generalizando as críticas; estes são
também uma extensão das pessoas que os dinamizam. Temos por isso blogues inteligentes, trauliteiros, polidos, sofisticados, populares, brejeiros, egocêntricos, generosos, de esquerda, de direita,
assim-assim, de futilidades, literatura, pornografia, poesia, defensores de causas, do não, do sim, do nunca, do sempre, utópicos, realistas, conservadores, progressistas; blogues masculinos, femininos, hetero, homo, de futebol, de cozinha, onde se ama a arte, se odeia o próximo, se difama e insulta; há ainda os que cantam, dão música, rezam, exaltam a razão, as ciências ocultas, as religiões reveladas ou por revelar.
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Na blogosfera está o melhor e o pior ... da realidade.
Aqui cada qual encontra o que quiser e vier procurar. Como poderia ser diferente? Os blogues são apenas um espelho do nosso tempo, que se desvendam a partir de um clique, numa dinâmica acelerada de construção, desconstrução e mudança. Quem não percebe - ou não quer perceber - o que aqui se passa, parou no tempo, algures num passado recente, mas que, curiosamente, está já bem distante. Não se pode compreender totalmente este novo século sem conhecer a internet e aquilo que ela representa.
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Aproveito ainda este post para vos contar um segredo: eu leio os textos do EPC. Sim. Quase sempre. Eu sei que ele diz que não lê blogues. Que se saiba, Derrida não teve um. Devia "penalizá-lo". Mas, meus amigos, me confesso: sempre que posso dou uma espreitadela naquela coluna, em busca de um momento de diversão. Como este, em que o nosso inefável literato, enquanto deambulava, algures nos Champs Elisees, digo, no Príncipe Real, encontra Manuel Pinho. EPC, estou certo, bebe champagne, français; a escrever assim, vê-se bem que o prefere ao bem luso Vinho do Porto. Enquanto não passa à história, meus caros, aproveitem, que os seus textos podem propiciar raros momentos de humor! Leiam-no! Vão ver que ficam mais bem dispostos.
Rodrigo Adão da Fonseca
P.S. (corporativista): O texto de EPC no Público é particularmente injusto porquanto envolve na sua crítica, pelo menos, uma das pessoas mais correctas e civilizadas que conheci nestes meandos, o LA-C.
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