Os riscos dos mais distintos 'Fins da História'

(...) Para atingir a liberdade, então, a primeira e a mais importante preocupação de todo o liberal é o respeito pelo seu semelhante e a sua prontidão para cumprir todas as demais obrigações que tem para com ele. Esta interpretação da liberdade e do liberalismo - que se encontra, por exemplo, em Lord Acton - não tem nada que ver com a interpretação que lhe foi dada pela generalidade dos autores liberais do século XX (Mises, Rand, Friedman, etc.) que viram na liberdade um meio - e um meio eficaz - para cada homem prosseguir os seus próprios interesses, sem qualquer preocupação com os demais. Não é, provavelmente, necessária grande elaboração para concluir que esta interpretação da liberdade acaba, a prazo, na supressão da própria liberdade. Pedro Arroja, Blasfémias (22.02.2007)
O Helder chama (e bem) a atenção para o facto de, em Rand, 'rational egoism não te(r) o mesmo significado que egotism e (...) selflessness não ser o mesmo que o Professor Arroja entende por altruísmo.' Ainda assim, é pacifico que esta autora promove, de facto, um individualismo focado no 'Eu'. Agora, a grande utilidade da sua noção de liberdade está, precisamente, na valorização do individuo e da sua vontade como forma de perseguir a felicidade. Numa época em que certas correntes dominantes difundiam que, para ser livre, o homem teria de ir além de si, evaziando-se num colectivo onde residiria a verdadeira essência da felicidade e da superação de toda e qualquer necessidade. Não vejo interesse em qualificar Rand fora do seu tempo. PA tem seguido, nas suas análises, os caminhos patrocinados pela dialéctica: coloca várias ideias sob tensão e conflito, para daí obter uma sintese, que lhe sirva de resposta: neste post, ela traduz-se na definição de 'Liberdade' (por exclusão das asserções que lhe foram dadas, v.g., por Mises ou Rand). Esta aproximação acarreta sérios riscos de dogmatismo. Há em Rand, Mises, Friedman, e certamente em Lord Acton (que não conheço para lá daquilo que PA tem desenhado no Blasfémias), diversas respostas e elementos de valia que não faz sentido excluir num plano analítico; talvez porque nunca me atrairam as abordagens onde se apresentam as ideias na sua forma final. Ao reduzir-se a 'Liberdade' a um conjunto de obrigações do indivíduo para com o seu próximo dilui-se, enfraquece-se, aquilo que, v.g., Rothbard considerou ser especifico do ser humano: 'que pode, e na verdade deve, escolher o seu curso de acção'. Não faz sentido limitar a cooperação entre os indivíduos, dotados de vontade e realização pessoal, capazes de fomentar o altruismo ou o egoismo, a um quase-determinismo que aprisiona a liberdade num leque de 'obrigações', num quadro em que a felicidade do 'Eu' passa apenas pela felicidade do 'Outro' (tal poderá ser assim, mas só se essa for a sua escolha). Esta forma de ver a Liberdade, sim, mata, a prazo, a própria Liberdade. E conduz, com frequência, à sua própria perversão (em que, afinal, apenas se equaciona uma forma de egoismo ainda mais subtil, 'o que é que os outros podem fazer por mim'). Seguindo novamente as pisadas de Rothbrad, '(p)edras, moléculas, planetas não podem escolher os seus cursos; o seu comportamento é estrita e mecanicamente determinado para eles.' Rodrigo Adão da Fonseca

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