O problema não é só o subsidiado, mas o subsídio

Josef Ehm, ' Portrait behind black lace ', 1945
Salazar não me inspira qualquer simpatia, mas tão pouco a repulsa que causa, por exemplo, ao Daniel Oliveira. É abusiva a comparação com Staline ou Hitler (se assim fosse, Soares, Cunhal e respectivas cortes não teriam sobrevivido a quase cinquenta anos de ditadura; se tivessem chegado à segunda metade do século já teria sido um bónus). Para mim, é mais uma personagem do passado, que a curta distância que nos separa da sua morte impede que se faça um juízo neutro - como devem ser as análises históricas - sobre o período da sua governação. Até para qualificar a nossa democracia seria bom que se avaliasse o Estado Novo resistindo à tentação de colocar Salazar na primeira linha dos facínoras do século XX. Tal ajudaria a perceber o tipo de democracia que temos, que não sendo inimiga da liberdade, como o era a ditadura, desconfia dela. 'Demoniza-se' Salazar e o Estado Novo para 'endeusar' os 'capitães de Abril' e assim branquear o actual regime democrático e os seus fundamentos. Assim, os que se atrevem a criticar o modelo previsto pela nossa Constituição, nascido da 'Revolução dos Cravos' - porque, imaginem, defendem outras formas de democracia, mais próximas do individuo e defensoras das liberdades individuais - são imediatamente apoupados e rotulados de 'faxxistas', facsistas', ou 'fasssistas', mesmo que, por sinal, rejeitem todas as formas de estatismo.

Os subsídios têm sempre subjacente uma determinada linha, reflectem uma dada prioridade dos agentes do Estado, obedecem a um certo politicamente correcto. O Estado não é neutro na atribuição de subsídios, diz o Daniel Oliveira. Esse é que é o (nosso) problema.

Rodrigo Adão da Fonseca

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