Blue Photo: Diane Arbus

Diane Arbus, "A Child Crying"

O país está deprimido. Mimalho. Precisa de uma nanny que tome conta dele. De carinho. De alguém que o compreenda.
Espantam-se?
Basta ver a facilidade com que choram os candidatos, público e, admito, telespectadores, de tudo o que gravita em redor do nacional-cançonetismo, seja da Operação Triunfo, seja do Família Superstar. Chora-se de alegria, de tristeza, porque sim, porque não, por qualquer coisa. O ponto máximo foi atingido a semana passada, quando uma mãe, de mão dada a uma criança de dez anos, em estado de choque, quase desfalecia em directo, depois de ter sido "excluída", enquanto a Bárbara Guimarães e um cromo que a SIC lá tem, de barbicha, procuravam disfarçar o pânico. Chora-se porque acabou a novela, ou porque morreram não-sei-quantos na estrada, ou porque a pequena Maddie nunca mais aparece. Chora-se com a Procissão das Velas em Fátima, ou porque o tratado vai ser orgulhosamente de Lisboa. País de carpideiras, o nosso.
Amanhã é dia de futebol. O resultado é uma incógnita, a chuva ou bom tempo também; uma coisa é, porém, garantida: vai haver choradeira. Seja porque nos apuramos, seja porque fomos humilhados por um bando de funcionários da Nokia. Não sei se a culpa é do fado entranhado nas veias, do D. Sebastião (que tem ar de quem chorava por tudo e por nada), do mar salgado de Fernando Pessoa, ou de uma exposição excessiva aos desenhos animados do Marco e da Heidi na infância, certo é que já lá vai o tempo em que fomos bravos; estamos feitos um país de nenucos chorões, condenados à mediania e ao paternalismo estatista.
Rodrigo Adão da Fonseca

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