O ponto de viragem


Conta La Fontaine que no tempo da bonança uma cigarra simpática optou por mandriar, em vez de fazer como a formiga, que se concentrou no trabalho. Chegados os tempos difíceis – que chegam sempre -, a cigarra acordou da doce mansidão para uma realidade exigente; a formiga estava preparada para o Inverno, a cigarra não: “Achou-se em penúria extrema, na tormentosa estação”, diz-nos Bocage. A crise afectou as economias um pouco por todo o mundo, mas tem vindo a ser sentida com maior intensidade naquelas que, como a cigarra, se prepararam pior nos tempos de bonança.
A má notícia é que a crise internacional veio pôr a nu as nossas fragilidades estruturais, fruto em boa parte de quinze anos de más políticas, que nos trouxeram uma sensação de progresso, mas que conduziram a que sejamos hoje um país com um tecido económico e social pouco resistente à adversidade. A boa notícia é que é da nossa natureza reagir às contrariedades. Na emergência das dificuldades, os portugueses são habitualmente capazes de se unir para corrigir os erros.
A economista Carlota Perez, de passagem por Lisboa, alertou-nos para o facto de todas as crises do capitalismo terem dado lugar a novas épocas de prosperidade. Ao momento da inversão chamou “the turning point”: a hora em que tudo se prepara, em que se criam as condições – ou não – para crescer na bonança e resistir às dificuldades que necessariamente voltam, nalgum momento no futuro.
Portugal deve saber evitar os chamamentos fáceis das cigarras e fugir de experimentalismos políticos, para apostar numa esperança não utópica, numa liderança experiente, exigente, serena, que saiba unir os portugueses para os desafios que se avizinham. No PSD, claramente, este é o perfil de José Pedro Aguiar-Branco.

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