Previsibilidade

Hoje, o Presidente da República convocou António Costa, e questionou-o sobre a sustentabilidade dos Acordos que celebrou com a esquerda, nos pontos que, nas suas duas intervenções anteriores, havia colocado em cima da mesa como pressupostos para indigitação de um governo. Pontos que têm sido negligenciados, e que estão longe de ser cumpridos, por parte da Frente de Esquerda. Nas últimas semanas, vivemos um clima sempre-em-festa, onde grande parte da imprensa, e opinion makers, preferindo ficar-se pela espuma dos dias, ignoraram olimpicamente as exigências do Presidente da República, bem como o seu papel num sistema semi-presidencial. Alinhando naquilo que é o mise-en-scène socialista e o minimalismo da solução que desenhou, boa parte do país mediático rendeu-se a uma suposta evidência de que Costa teria de ser indigitado. Não faltou quem falasse em "parlamentarização" do regime, e na subordinação do papel presidencial.

Cavaco Silva, porém, não parece muito tentado a ceder a quem não percebe que há muitas coisas em jogo: e uma delas é garantir que o papel do Presidente da República no quadro do nosso sistema se mantém forte, e não cede às jogatanas partidárias desenhadas a partir do Parlamento. Aquilo que Cavaco hoje exigiu era mais do que previsível. Espanta-me que tão poucos o tenham antecipado. 

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