Presidenciais e estratégias pessoais vencedoras

As eleições presidenciais são um momento mediático único, que serve os cidadãos, candidatos e partidos; delas também aproveitam muitos dos que gravitam em redor do político. Este é um post arriscado; em geral em Portugal não se analisam friamente as estratégias dos vencedores [só mesmo o José Mourinho e o Figo em Portugal têm esse privilégio]; os vencedores endeusam-se, amam-se, invejam-se e destroem-se, puxando-os para a lama e para a intriga. Eu, talvez por ser um NeoLiberal Progressista, um Economic Liberal, gosto de observar com atenção e um certo distanciamento, até ideológico, as estratégias vencedoras. Assim, gostei francamente da performance de JPP, CCS e JAD. JPP apoiou Cavaco de uma forma lúcida, não subserviente, sem nunca deixar de ser crítico quando entendeu que tal se justificava. Ajudou a separar, nesta eleição, o essencial do acessório. E, acima de tudo, demonstrou mais uma vez ser um fenómeno comunicacional único em Portugal, alguém que nos blogues, na imprensa escrita e falada, e agora também em livro, vai devorando o espaço mediático, e semeando as suas ideias. Tem necessariamente de estar no topo da lista. A CCS recuperou nos últimos meses um espaço que não sei se estava perdido ou simplesmente temporariamente abandonado. Certo é que as Presidenciais a projectaram de novo para a primeira linha do jornalismo em Portugal; talvez motivada por este renascimento, CCS desceu entretanto à blogosfera e, em menos de um mês, primeiro no Minha Rica Casinha, depois n’O Espectro, impôs-se com uma rapidez impressionante: uma verdadeira «blogo-latifundiária» (quem na blogosfera se dedica «a lavrar», sabe bem quão difícil é «cultivar a terra», mesmo quando as tarefas são «repartidas»). Por tudo isto, «tiro o chapéu» à CCS e à sua estratégia vencedora. O facto de ter aderido ao fenómeno dos blogues e a todas as suas regras escrevendo e debatendo com uma fantástica atitude de abertura é um factor de qualificação que bloguistas de pequena expressão, como eu, devem encarar com entusiasmo. Muitos consideram que a JAD é uma das derrotadas nesta eleição; de um certo ângulo, pode dizer-se que sim: a candidatura que apoiava foi fortemente penalizada pelos eleitores; ainda assim, e no contexto que aqui se analisa, a JAD merece uma palavra de apreço. Quem estiver atento e observar com algum distanciamento a forma como a JAD ascendeu no meio político e mediático não pode deixar de apreciar a forma inteligente como geriu em termos pessoais as Presidenciais e o período que as antecedeu. Claramente subalternizada no Bloco de Esquerda, por razões que desconheço, soube agarrar a oportunidade que Mário Soares lhe deu para, como se diz na gíria futebolística, «saltar do banco» e demonstrar uma forte presença mediática, uma capacidade de liderança invulgar, e uma vontade tremenda de fazer política no seu quadrante ideológico; foi uma mandatária aguerrida, e a sua atitude projectou-a para os holofotes e para o reconhecimento público; JAD merece consideração, também, por ter um estômago e um fígado resistentes num país hipocritamente machista. Não há na nossa geração muitos políticos tão qualificados e com o seu carisma pessoal; por isso, seja no Bloco de Esquerda ou numa outra força partidária, tem pela frente um grande futuro político, caso seja essa a sua opção de vida, e souber utilizar adequadamente o capital que acumulou nos últimos meses. Rodrigo Adão da Fonseca

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